22 junho 2012

Histórias...

O que nasce primeiro, a história ou a imagem?André Neves ilustrador e autor de sucesso acabou de receber, em dezembro passado, o prêmio Jabuti de melhor livro infanto-juvenil por Obax, a história de uma menina sonhadora que mora nas savanas africanas e adora criar histórias. Em uma entrevista ele fala...

É um processo simultâneo. O livro é um objeto único. Por exemplo, quando criei o roteiro para a história de Obax, as imagens foram surgindo na minha cabeça. Pego o bloco de texto, leio e penso em como fazer uma cena que remeta a esta ideia, como distribuir as palavras na página. Aquele desenho inicial vai se transformando, compondo com o texto, percebendo o impacto da leitura. Escrevo corrido, na medida em que monto o projeto do livro vou talhando, mudando, estruturando a linguagem. É aí que me entendo como escritor, que começo a trabalhar a linguagem literária, consigo perceber minha escrita, o texto dentro do livro. Existe outra linguagem para o livro, que tem um alcance maior para o leitor da infância e o jovem leitor: um ilustrador que escreve.
O primeiro livro que ilustrei, em Pernambuco, foi um livro de cunho educativo, O dente de leite, escrito por Socorro Miranda. Minha ilustração era horrorosa. Só quando vim para São Paulo comecei a entender o papel da ilustração, ter a preocupação de trazer a arte para dentro do livro. Acho que foi a partir daí que fui absorvendo as referências visuais de artistas que eu gosto para o meu livro. Foi em 2002, com a publicação de Sebastiana e Severina que o meu desenho mudou. As ilustrações anteriores tinham as características do livro brinquedo. Ao criar, às vezes penso na minha própria infância, em coisas que, ao ler, iriam me divertir, ou ainda em coisas que eu iria gostar de ver em um livro, uma imagem delicada, que desperte afeto. As pessoas me perguntam de onde vem o nariz, a forma alongada, o olho. Essas formas às vezes um pouco troncha. Isso está em Reinaldo Fonseca, nas figuras longas de Abelardo da Hora, em Homero de Andrade e Lima e na própria literatura de cordel. Vou me alimentar com a arte dos artistas pernambucanos para trazer algo novo para o leitor. As raízes culturais estão vivas, presentes no mundo. 


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